segunda-feira, 22 de junho de 2009

DE ONDE VEM AS APTIDÕES ARTÍTICAS DOS CORINGAS DE LEMOS?

O cantor, compositor e poeta, carnaubaense Zelito Coringa, representa hoje um dos nomes importantes da NOVA MÚSICA POPULAR BRASILEIRA, classificado em vários festivais importantes dentre eles o Premio Geraldo Azevedo/2oo7, trás dos seus antepassados o sentimento de força e determinação nos seus projetos artísticos. Zelito é da gema pura.

Todo Coringa da Várzea do Açu tem vinculação a Lemos. Por isso, os ancestrais eram chamados e registrados como Coringa de Lemos. Como caracteres pessoais, eram e são conhecidos como inteligentes, aptos às atividades da mente e se destacaram em várias ações intelectuais. No jornalismo, conhecemos Ubiratan de Lemos, filho de Juvino Fernandes de Lemos, varzeano-do-açu que se incorporou aos soldados da borracha na década de 30, indo estabelecer-se no Alto Amazonas de onde saíram Juvino Fernandes de Lemos Filho, para Manaus, e Ubiratan de Lemos para o Rio de Janeiro, onde foi repórter e diretor da revista O CRUZEIRO, enquanto viveu, deixando por lá irmãos e filhos seus dedicados ao jornalismo.

Francisco Coringa de Lemos, conhecido por Chico Ligeiro, era poeta. Envolvido numa demanda judicial, por discordar dos limites de propriedade impostos por seu vizinho João Rodrigues Ferreira de Melo – Joca de Melo – que, por ser mais abastado e poderoso, era acusado de desrespeitar as marcas tradicionais das confrontações existentes e, invadindo limites das propriedades, abusava de acordos já estabelecidos. Não concordando, Chico Ligeiro derrubou os marcos de confrontações de áreas rurais, apostos por assalariados de Joca de Melo, provocando a pendência que o fizera ser conduzido, preso, para decisão na Intendência do Açu, o órgão administrativo e judicial da época que punha no lugar as controvérsias, resolvendo as desavenças entre os discordantes. Por isso, foi Chico Ligeiro conduzindo para a cidade de Açu, em uma embarcação, visto estar a várzea inundada por uma das fabulosas enchentes do rio Açu. Na Intendência, instalado o Conselho de Justiça, a Chico Ligeiro foi dada oportunidade de se manifestar e, pedindo para produzir em versos a sua defesa, entoando de improviso os próprios argumentos, assim se manifestou:

Eu vi minha terra

Sumir-se ligeiro,

Vi os cajueiros,

De mim se afastar

O lenço, de longe,

Eu ia acenando

E o barco vagando

Nas ondas do mar.

Dado o imenso volume das águas que inundavam a região, transbordando dos leitos e dos córregos, ele chamava de mar, o que facilitava a rima dos versos que entoava.

Deixei minha terra,

Meus rios, meus montes,

Deixei horizontes,

Me pus a chorar

O lenço de longe,

Eu ia acenando

E o barco vagando

Nas ondas do mar.

Deixei meus filhinhos

Que lá se ficaram,

E tanto choraram

A minha partida.

Deixei a consorte

Que também chorava

Porque eu lhe deixava,

Cruel despedida!

Deixei minha terra,

Dali eu parti.

Eu muito senti,

Pois feri um nobre.

Se eu tiver vida

Ainda hei de vê-lo

Mais rico e mais nobre

Que quando parti.

Como resultado, os seus desafetos reconheceram o valor do poeta e desistiram da pendência, proclamando o esbulho dos direitos reclamados pelo poeta. O texto é de autoria de Gilberto Freire de Melo

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